Olha Isso!!!

domingo, 12 de outubro de 2008

Sweeney Todd (Teatro - Lisboa)

Se sair do Teatro Aberto a cantar “o rei da barba e do bigode” é normal, faz parte do musical de Sondheim, diz Ana Dias Ferreira


História de terror que é história de terror tem de ter sempre uma banda sonora que meta um órgão, daqueles antigos, de igreja, de onde não saem só marchas nupciais mas as músicas mais tétricas. Esta história tem: órgão logo ao início, personagens de cara branca, olheiras e lábios pretos, um serial killer que corta pescoços com a navalha da barba e que usa carne humana para fazer empadas. E, claro, sangue. Muito sangue.


Sweeney Todd, o Terrível Barbeiro de Fleet Street, chegou ao Teatro Aberto. Não é apenas uma história de terror – é um musical em versão de thriller melodramático com crítica social. Um espectáculo que João Lourenço, encenador, define como teatro total: “Tem música quase de ópera, canto lírico, representação teatral e coreografia”, num elenco que junta uma dezena de actores, 12 bailarinos, um coro de 16 elementos e uma orquestra de dez.


O espectáculo, uma co-produção Teatro Aberto e Teatro D. Maria II, é a versão portuguesa – assinada por João Lourenço, Vera San Payo de Lemos e José Fanha – do famoso musical de Stephen Sondheim, que estreou na Broadway de Nova Iorque em 1979. E conta a história de Benjamin Barker, mais conhecido como Sweeney Todd, uma espécie de Jack o Estripador, versão lenda.


Benjamin Barker (Mário Redondo) é barbeiro em Fleet Street, com loja no andar vizinho de Mrs. Lovett (Ana Ester Neves), cozinheira das “melhores empadas de Londres”.


Alvo de uma cilada, é condenado injustamente a servir nas galés, e regressa ao fim de 15 anos para saber que a mulher que fora obrigado a deixar se suicidou depois de ter sido violada pelo mesmo juiz que o tinha condenado, “e por todos os que se quiseram servir”. Obcecado pela vingança, acaba por encontrar na navalha que servia para cortar barba uma boa ferramenta para cortar pescoços. E adopta o nome pelo qual fica famoso, Sweeney Todd.


A história foi contada em folhetins do século XIX, adaptada ao teatro na mesma altura e ao cinema pela primeira vez em 1926, num filme mudo do qual não resta nenhuma cópia. Com o tempo, outras versões foram apresentadas, fez-se um bailado e até BD para crianças.


Entretanto, quase a chegar está a versão do realizador Tim Burton, que por altura do Natal estreia a sua versão do musical, Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street, com Johnny Depp – quem mais? – no papel do “terrível barbeiro”. [Já lançado]


“É uma personagem que tem sido alvo de atenção ao longo dos séculos porque exerce um enorme fascínio”, diz Mário Redondo, barítono (foi o protagonista da Ópera dos Três Vinténs) que interpreta Todd. “Simboliza a possibilidade de qualquer um de nós de repente se transformar numa espécie de monstro”, continua o actor. “Não é como o Hannibal Lecter, que é um gajo doente. É alguém que foi vítima de uma coisa horrível e nos põe a pensar como é que se transpõe a ideia de vingança em relação a uma pessoa para a ideia de vingança de uma sociedade em geral.”


João Lourenço chama-lhe anti-herói e ficou fascinado com a história quando, há 20 anos, em Nova Iorque, assistiu ao musical juntamente com Vera San Payo de Lemos. “Nessa altura eu só conhecia o Stephen Sondheim enquanto letrista do West Side Story, fui completamente surpreendido”, conta o encenador. Foi à procura de mais informação sobre a personagem, “que não se sabe ao certo se existiu ou não”, andou pela Fleet Street, visitou a cave onde supostamente Todd e Lovett guardariam os cadáveres para fazer as empadas. Durante anos pensou em passar a história para português, e depois de 12 meses a fazê-lo conseguiu encená-la pela primeira vez no D. Maria II, faz agora dez anos.


Nesta nova versão – onde apenas se repetem dois actores, Henrique Feist e Carlos Guilherme – João Lourenço experimenta um novo olhar: “Quisemos sair de Londres, deixar os capacetes dos polícias, os Big Bens, e ser mais uma parábola onde se satiriza a matança, o serial killer. É uma versão mais actualizada, hoje as mortes estão mais banalizadas.”


Sempre que Sweeney Todd corta as gargantas, ouve-se um som lancinante, como um grito metálico. O encenador conta que o efeito é conseguido com um piano eléctrico e que Sondheim chama a esta nota, na partitura, “a nota da morte de Sweeney Todd”. Dó é que não deve ser.

Qua-Sáb 21.30, Dom 16.00 20€. Até 30 Dez. Teatro Aberto
Ana Dias Ferreira
terça-feira, 16 de Outubro de 2007

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