O objetivo deste trabalho é mostrar o que muda na ortografia brasileira, após o acordo de unificação da língua portuguesa aprovado em 1990.
Quando abordamos o uso do trema, da acentuação gráfica e do emprego do hífen, principais tópicos do acordo, nos detivemos apenas nas mudanças ocorridas. Não mencionamos as antigas normas que se conservaram inalteradas.
O único caso em que julgamos necessário relembrar a antiga norma gramatical foi o dos verbos arguir, redarguir, apaziguar, averiguar e obliquar que, antes mesmo do acordo, criavam alguma dificuldade de conjugação e acentuação.
Tivemos o cuidado, especialmente no uso do hífen, de assinalar que algumas das novas normas não causaram alteração no Brasil, como é o caso da que estabelece que "o hífen é obrigatório em palavras cujo prefixo ou radical termina na mesma vogal com que se inicia o 2º elemento". Semi-inconsciente, semi-interno e demais vocábulos formados pelo radical semi + 2º elemento iniciado pela vogal "i" já eram hifenizados no Brasil; portanto não sofreram nenhuma mudança, ao contrário de anti-imperialista, arqui-inimigo e outros vocábulos que, antes do acordo, eram grafados sem hífen. Portanto, algumas das regras gerais do acordo apresentam aqui, no Brasil, suas particularidades. Para novos exemplos, veja o caso dos vocábulos com "prefixo ou radical terminado em vogal + 2º elemento iniciado por vogal distinta da anterior" que, a partir do acordo, devem ser grafados sem hífen como autoajuda, autoestima... enquanto que outros, mesmo se enquadrando nesta norma, já não eram hifenizados como aeroespacial, agroindústria, bioética, eletroencefalograma, hidroaeroplano... Esses e outros "lembretes" estão presentes neste trabalho como também alguns conceitos gramaticais que serão utilizados no decorrer da explicação.
Boas leituras, boas escritas e boa sorte!
Alguns conceitos gramaticais que serão utilizados no decorrer da explicação
Ditongo: duas vogais numa mesma sílaba, ou seja, pronunciadas de uma só vez:
Cai = palavra monossílaba
feiura = fei-u-ra
água = á-gua
história = his-tó-ria
feira = fei-ra
saudade = sau-da-de
apoio = a-poi-o
Ditongos abertos: éu como em céu, éi e ei como em réis e ateia, ói e oi como em anzóis e claraboia
Hiato: uma vogal isolada na sílaba, sem estar acompanhada de outra, ou seja, pronunciada separadamente de outra vogal:
caí = ca-í
ainda = a-in-da
Ataíde = A-ta-í-de
rainha = ra-i-nha
Apoio = a-poi-o
raiz = ra-iz
feiura = fei-u-ra
raízes = ra-í-zes
Composição e Derivação
Palavras compostas
por justaposição: duas ou mais palavras se juntam, com hífen ou sem hífen, sem perda ou acréscimo de elementos, formando uma nova unidade semântica:
bem-criado (bem + criado), malcriado (mal + criado), guarda-chuva (guarda + chuva)
por aglutinação: duas ou mais palavras se juntam, sem hífen, com perda ou acréscimo de elementos, formando uma nova unidade semântica:
aguardente (água + ardente), Fonseca (fonte + seca), tragicômico (trágico + cômico)
Palavras derivadas
Palavras que se formam, por meio da inserção de prefixos e/ou sufixos: ante-histórico (prefixo latino ante + histórico), adjunto (prefixo latino ad + junto), suavizar (suav + sufixo verbal izar), pontudo (pont + sufixo nominal udo), bondosamente (bondosa + sufixo adverbial mente), infelizmente (prefixo latino in + feliz + sufixo adverbial mente)
Compostos eruditos
Há elementos formadores de palavras como aero, agro, arqui, auto, bio, eletro, geo, hidro, inter, macro, maxi, micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pseudo, retro, semi, tele ... chamados de prefixos falsos ou radicais.
Qual a diferença entre prefixos (formadores de palavras derivadas) e prefixos falsos ou radicais (formadores de palavras compostas)?
"Os radicais têm um significado intrínseco, ou seja, eles significam algo por si só. Seria como se traduzíssemos uma palavra de uma língua para outra. Um radical seria traduzido como um substantivo, um adjetivo, um verbo, um advérbio, um numeral. Um prefixo, não. Um prefixo seria traduzido como um elemento de ligação, ou seja, uma preposição, uma conjunção, uma locução prepositiva ou conjuntiva.
Exemplos: Proto [protótipo] = primeiro = numeral; portanto, radical. Auto [autobiografia] = de si mesmo = pronome; portanto, radical. Semi [semideus] = metade = numeral, ou um tanto [semimorto] = advérbio; portanto, radical. Supra [supracitado] acima de, antes de = locução prepositiva; portanto, prefixo. Extra [extraordinário] = fora de, além de = locução prepositiva; portanto, prefixo. Pseudo [pseudônimo] = falso ou suposto = adjetivo; portanto, radical."[1]
Novo Acordo Ortográfico
1. Alfabeto
"K", "W" e "Y" foram incorporadas ao alfabeto, que passa a ter 26 letras.
Entretanto, palavras como quilo, quilômetro, quilobaite, cáiser, caratê, chantili, ioga e outras continuam com a grafia aportuguesada.
2. Trema
O trema desaparece nas palavras em português: quinquênio, grandiloquente, linguiça, aguentar...
O trema continua nos nomes próprios estrangeiros: Müller, Hübner...
3. Ditongos abertos ei e oi
Não se acentuam mais os ditongos abertos (oi, ei) das palavras paroxítonas: ideia, plebeia, eu apoio, introito, assembleia...
Continuam acentuados os ditongos abertos em palavras oxítonas e monossílabas: céu, léu, sóis, méis, pincéis, anzóis, mundaréu, girassóis...
4. Hiatos i e u tônicos
Não se acentuam mais os hiatos i e u tônicos das palavras paroxítonas, precedidos de ditongos: baiuca, feiura, cauila (avarento, sovina) = ai, ei, au = ditongos; u, i = hiatos tônicos
Continuam acentuados os hiatos i e u, seguidos ou não pela letra s:
nas palavras paroxítonas quando não vierem precedidos por ditongos: saída [sa-í-da], saúde [sa-ú-de], balaústre [ba-la-ús-tre], egoísmo [e-go-ís-mo]...
nas palavras paroxítonas quando não vierem precedidos por ditongos: saída [sa-í-da], saúde [sa-ú-de], balaústre [ba-la-ús-tre], egoísmo [e-go-ís-mo]...
á Os hiatos i e u tônicos seguidos de nh continuam sem acento agudo: rainha, campainha...
nas palavras oxítonas, precedidas ou não de ditongos: Jundiaí, saí, baús, Havaí...
5. Acento agudo nas formas verbais cujo "u" tônico, precedido de "g" ou "q" + "e" ou "i"
á Antes do acordo ortográfico
Eram acentuadas, com acento agudo, as formas verbais cujo "u" tônico fosse precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i"
Argüir e redargüir - presente do indicativo: tu argúis, redargúis; ele argúi, redargúi; eles argúem, redargúem.
Imperativo afirmativo: argúi tu, redargúi tu.
Apaziguar, averiguar - presente do subjuntivo: que eu apazigúe, averigúe; que tu apazigúes, averigúes; que ele apazigúe, averigúe; que eles apazigúem, averigúem.
Obliquar - presente do subjuntivo: que eu obliqúe, que tu obliqúes; que ele obliqúe, que eles obliqúem.
á Após o acordo ortográfico
Não serão mais acentuadas, com acento agudo, as formas verbais cujo "u" tônico for precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i"
Arguir e redarguir - presente do indicativo: tu arguis, redarguis; ele argui, redargui; eles arguem, redarguem.
Imperativo afirmativo: argui tu, redargui tu.
Apaziguar, averiguar - presente do subjuntivo: que eu apazigue, averigue; que tu apazigues, averigues; que ele apazigue, averigue; que eles apaziguem, averiguem.
Obliquar - presente do subjuntivo: que eu oblique, que tu obliques; que ele oblique, que eles obliquem.
6. Acento circunflexo nas palavras terminadas em oo, eem
Não serão mais acentuadas as palavras com o e e duplos: voo, abençoo, enjoo. Creem, deem, leem, veem (verbo ver) e seus derivados descreem, releem, reveem...
6. Acento circunflexo nas palavras terminadas em oo, eem
Não serão mais acentuadas as palavras com o e e duplos: voo, abençoo, enjoo. Creem, deem, leem, veem (verbo ver) e seus derivados descreem, releem, reveem...
Continua acentuada com ^ (circunflexo) a 3ª pessoa do plural dos verbos com um único e: eles têm, eles vêm (verbo vir) e seus derivados: eles se abstêm, de onde provêm tantos risos?
7. Acento diferencial
Não se acentuam mais:
para [verbo parar], pela(s) [substantivo: a bola, especialmente a de borracha, usada em jogos e brincadeiras, jogo da pela. Observe que "pelada", sinônimo de jogo de várzea e também de jogo ruim, é derivado de pela.] Também não se acentuam pela e pelas [verbo pelar, tu pelas, ele pela], pelo [verbo, eu pelo, e substantivo, o pelo do rosto] e pelos [substantivo, os pelos da perna], polo e polos [substantivo].
á Continuam acentuadas: pôde [presente do indicativo do verbo poder] para diferenciar de pode [pretérito perfeito do verbo poder], pôr [verbo] para diferenciar de por [preposição].
á Continua facultativo o acento em fôrma [recipiente para bolos, assados...] para diferenciar de forma [verbo formar e substantivo com significado de formato, feitio...]
á Não há referência no novo acordo a respeito da continuidade ou não de acento em pêra [substantivo, fruta, pequena porção de barba que se deixa crescer no queixo]. Não se sabe por que não se adotou explicitamente o mesmo critério, tanto mais que o seu plural já não era acentuado: as peras estão maduras.
8. HífenEm palavras cujo prefixo ou radical[2] terminar na mesma vogal com que se inicia o 2o elemento:
anti-imperialista, anti-inflamatório, anti-intelectual, supra-auricular, supra-axilar, arqui-irmandade, arqui-inimigo, eletro-oculografia, eletro-oculograma, extra-axilar, micro-onda, micro-ônibus, micro-organismo, micro-orgânico, pré-eleitoral, pré-encolhido, pré-encolher, pré-ênfase, pró-ocidental, sobre-estar, sobre-eminente, sobre-exaltação, sobre-exaltar, sobre-excedente, sobre-excitar.
á Semi-inconsciente, semi-interno e demais palavras formadas pelo radical semi + palavra iniciada pela vogal "i" já eram hifenizadas na "velha" ortografia.
As palavras formadas pelos prefixos contra, infra, intra, supra, ultra + 2o elemento iniciado por "a" já eram grafadas com hífen antes da aprovação do acordo ortográfico: contra-almirante, contra-acusação, contra-assinatura, contra-ataque, contra-aviso; infra-assinado, infra-axilar, intra-alveolar, intra-articular, supra-axilar, ultra-apressado.
Aboliu-se o hífen e dobraram-se as letras
Em palavras cujo prefixo ou radical terminar em vogal e o 2o elemento começar com r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se:
anterrosto (a 1a página do livro chamada de olho), antirruído, antirracismo, contrarregra, contrarreforma, contrarrevolução, cosseno, extrarregular, infrassom, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia, semisselvagem, semissecular, semirroto, suprassumo, suprassensível, suprarrealismo, suprassensibilidade, suprassegmental
á Porém hiper-requintado, inter-racial, super-realista = prefixos hiper, inter, super + palavra iniciada por r, conserva-se o hífen, já usado na "velha" ortografia
Aboliu-se o hífen
Em palavras cujo prefixo ou radical terminar em vogal e o 2o elemento começar por vogal diferente:
Extraembrionário, extraescolar, coeducação, coeditar, autoajuda,autoestrada, autoestima, autoaprendizagem, autoadesivo, autoadmiração, autoagredir, autoanálise, autoelogio, autoestrada, infraestrutura, neoescolástico, neoexpressionismo, neoimpressionismo, protoariano, pseudoatlético, pseudoepígrafe, semianalfabeto, semiárido, semianual, semieixo, semiesfera
Palavras sem hífen antes mesmo da aprovação do acordo ortográfico
Prefixo ou radical terminado em vogal + 2o elemento iniciado por vogal distinta da anterior:
radical aero = aeroespacial
radical agro = agroindústria, agroindustrial
radical bio = bioética, bioengenharia, bioensaio
radical eletro = eletroencefalograma, eletroerosão
radical geo = geoanticlinal, geoecologia, geoeconomia, geoestacionário
radical hidro = hidroaeroplano, hidroavião, hidroelétrico
radical macro = macroeconomia, macroestrutura
radical micro = microambiente, microaspersor, microinformática
radical multi = multiangular, multiaxial, multiovulado
radical neo = neoescolástico
radical pluri = plurianual
radical retro = retroalimentação
radical tele = teleator, telealuno, teleimpressor
Referências utilizadas
* http://dilsoncatarino.blogspot.com
* Antônio Houaiss e Mauro de Salles Villar, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001.
* Celso Cunha, Gramática do Português Contemporâneo, Editora Bernardo Álvares, Belo Horizonte, 1969.
* Diário do Congresso Nacional, Seção II, Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, Brasília, Ano L, Nº 63, 21/4/1995.
* Eduardo Martins, Manual de Redação e Estilo, Editora Moderna, São Paulo, 1997.
* Vários colaboradores, Novo Dicionário da Língua Portuguesa - Conforme Acordo Ortográfico, Texto Editores, São Paulo, 2008.
Sugestões, críticas e reflexões, entrar em contato com ione@mercuryojovem.com.br.
[1] Informação extraída de http://dilsoncatarino.blogspot.com
[2] Ver Compostos eruditos
Encontrado em: http://www.libre.org.br/institucional_view.asp?ID=41
Mais Informações:
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