Olha Isso!!!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Pagani Zonda Roadster F


Mais um carro – e de novo montes de celulares com câmeras esperam que essa espaçonave Enterprise pare. E enquanto os donos destes celulares asseguram a conversa de bar para aquela noite, um motorista lentamente, acidentalmente gira o volante em direção a nossa carruagem de 800 mil euros (na Europa; no Brasil, há um cupê deste belo carro, amarelo, à venda por R$ 4 milhões). Não seria a primeira vez. Quase batidas, um público devotado e explicações sobre a origem desta obra poderosa em cada parada para reabastecer são parte da vida com um Pagani Zonda Roadster F.

Com apenas 25 Zonda F no mundo (e cerca de 90 no total), eles fazem Ferrari e Lamborghini parecer comum como estrume de vaca. Mesmo que o desenho básico já tenha nove anos de idade e um modelo novo seja esperado para este ano, o superesportivo ainda pára o trânsito. É estranho estar escrevendo o obituário de um carro que, oriundo de uma instalação industrial pequena no fim da estrada que liga Lamborghini e Ferrari, chacoalhou o mundo dos supercarros e mantém seu impacto de marreta ainda hoje. Mas, com a versão R sendo destinada apenas a clientes atuais e selecionados, este é o último Zonda que existirá. Por sorte, também é o melhor de todos.

Aquele escape de metralhadora Gatling é a assinatura da família Zonda e o aerofólio traseiro plano, o difusor de ar de fibra de carbono, a intrincado trama de fios, bancos de couro macios como um edredon e a pintura perolizada do F poderiam servir ao início de uma tese. Sem o teto em estilo de bolha, o Roadster também parece ainda melhor do que o cupê, com seu estilo mais ameaçador. Ele é puro teatro sob todos os ângulos.

Você poderia perder dias nos detalhes, a maneira como a trama de fibra de carbono se casa perfeitamente por toda a seção inferior, os pilares e o interior, o fato de o porta-luvas vir com uma fechadura que poderia adornar qualquer bolsa de mulher e a alavanca de câmbio tão elegantemente localizada no console central que só pega luz de maneira indireta. Então há também o painel de instrumentos de outro mundo, com mostradores que parecem com os dos relógios Rolex.
Juan Manuel Fangio, cinco vezes campeão do mundo de Fórmula 1, esteve envolvido com o desenho do modelo e o F é um tributo a este grande homem do mundo do automobilismo. Depois de mudar a trama de fibra de carbono e mais de 60 componentes internos do carro, Horacio Pagani finalmente acredita que chegou à perfeição, um carro digno do nome de seu grande amigo. Como Fangio, ele é inigualável e dramático, cativando a imaginação como nada mais na estrada conseguiria fazer. E mesmo que ele fosse um tremendo abacaxi com o qual viver, como uma namorada gastadeira, ele viria com aquelas recompensas inerentes em toda e qualquer voltinha.

Sempre que a estrada se abre, uma triscada no pedal do acelerador gasta uma golada de combustível e o carro decola rodovia adentro como um rato esfaqueado. Uma velocidade crua, animalesca vem de quase nada de giros do motor, com o motor forjando uma onda irresistível de torque. Um espasmo violento é enviado direto às rodas de magnésio de aro 20”, com os pneus Pirelli P Zero cavando o asfalto e mandando o carro agarrar o horizonte enquanto o rugido metálico aumenta até chegar a um ronco de Fórmula 1 meio fora de tom. Ele é grave e visceral, como o barulho de um caça das antigas. Todo mundo adora.

A marca de 96 km/h (60 mph) chega de repente, em 3,6 s, e o mundo derrete for a da janela enquanto este foguete em forma de flecha ganha ritmo e atinge 160 km/h. Apesar da maior resistência criada pelo teto cortado, o carro ainda atingirá 344 km/h sem esforço. Ele também pode fazer isso todo santo dia, graças a um motor que trabalha com folga e à tecnologia aeroespacial e de Fórmula 1 que abunda pelo carro todo.

No modelo Clubsport completo, o F tem a versão motor 7,3-litros AMG de 660 cv, um propulsor abusado que não gosta de cidades e vive apenas por uma estrada longa e sinuosa. Nós nunca atingiríamos seus limites nas estradas públicas do Reino Unido. Teríamos terminado no YouTube, depois na prisão. Mas é bom saber que poderíamos ter chegado lá, se quiséssemos. O Zonda surpreende tanto por sua incrível acessibilidade quanto por sua força além do razoável. Você poderia dirigi-lo todos os dias se pudesse estacioná-lo na rua e não se preocupar com vândalos.

Uma tecnologia anti-estagnação é usada para manter os giros do motor em ordem. Apesar de ser pesado, o pedal de embreagem, finamente ornamentado, nunca deixa o carro pulando feito um coelho na estrada. Usando uma marcha mais alta, o F vai encarar rotas urbanas apenas com um tremelique em seu chassi de fibra de carbono.

Da Mercedes-Benz a Pagani herdou alguns dos sistemas de controle de tração e de segurança mais sofisticados do mundo, então o risco de sair queimando pneu logo na partida é nulo. Com todos os equipamentos ligados, qualquer um poderia dirigir o F. A direção, assistida e direta, aponta sempre para o lado certo e os pára-choques dianteiros de bochecha de hamster tornam este Zonda mais fácil de dirigir que a maioria dos hatches modernos. Em velocidades equivalentes, o Roadster F segue a mão de modo direto e correto.

Em seus limites, com os equipamentos “salva-vidas” desligados, o carro é uma besta bem mais traiçoeira. Mas os truques que ele faz nessa condição não são para uma via pública. E é uma pena que este carro seja bonito demais para colocar em uma pista de corrida. É provavelmente a perversa falta de sentido deste carro, que deverá sair da garagem apenas para dar um passeio por Monte Carlo ou Puerto Banus, que o torna tão incrivelmente atraente.

Foram idéias extravagantes como estas que fizeram com que nos apaixonássemos por carros em primeiro lugar. O Zonda Roadster F é um sonho em forma de automóvel. Em termos de um superesportivo puro, não há nada que possa ser melhor do que isso.

Para seu próximo carro, Pagani prometeu algo realmente especial, uma máquina que superará o Zonda em cada aspecto. Se ele terá o mesmo impacto (ou um ainda maior), é algo que teremos de esperar para ver, mas, com o Zonda em perspectiva, o novo carro terá um caminho muito difícil a trilhar.

DERRAPAMOS: o texto informava que o valor do Pagani Zonda Roadster F era de US$ 540 mil, mas o veículo custa 800 mil euros, valor, portanto, bem mais alto que o informado pelo autor. O texto já foi devidamente corrigido.


The New York Times Syndicate


Tradução de Gustavo Henrique Ruffo






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